Por que o Cristão não deve guardar o sábado como na Antiga Aliança


Descubra à luz da Bíblia por que os cristãos não estão mais obrigados a guardar o sábado como mandamento cerimonial, com base no ensino de Cristo e dos apóstolos.

Introdução

A guarda do sábado é uma questão que frequentemente causa confusão entre cristãos sinceros. Muitos, ao lerem os Dez Mandamentos, se perguntam: “Se os outros nove mandamentos ainda valem, por que não guardar o sábado também?” A resposta precisa ser encontrada nas Escrituras e na correta distinção entre Antiga e Nova Aliança. Neste artigo, vamos examinar por que o cristão, vivendo sob a graça de Cristo, não deve guardar o sábado como na Antiga Aliança.

O sábado era um sinal da Antiga Aliança

O quarto mandamento, “Lembra-te do dia de sábado, para o santificar” (Êxodo 20:8), era mais do que uma instrução moral; era um sinal entre Deus e o povo de Israel. Em Êxodo 31:13, o próprio Deus declara: “Certamente guardareis os meus sábados, porquanto isso é um sinal entre mim e vós nas vossas gerações.” O sábado, portanto, tinha um papel específico na teocracia israelita como símbolo da aliança mosaica.

João Calvino, em suas Institutas da Religião Cristã, explica que o sábado “foi um tipo espiritual que deveria cessar com a vinda de Cristo”. O reformador mostra que a guarda do sábado era pedagógica e temporária, apontando para o descanso que seria plenamente realizado em Cristo.

Cristo é o cumprimento do sábado

Em Colossenses 2:16-17, o apóstolo Paulo afirma de forma incisiva: “Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, porque tudo isso tem sido sombra das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo.” Aqui está o ponto central: o sábado, assim como os demais rituais cerimoniais do Antigo Testamento, era sombra; a realidade chegou em Jesus.

Hebreus 4 reforça que o verdadeiro descanso do povo de Deus é alcançado pela fé em Cristo. “Portanto, resta um repouso para o povo de Deus” (Hebreus 4:9), e este repouso não é um dia da semana, mas a entrada no descanso eterno por meio da obra consumada de Cristo (Hebreus 4:10). John Owen, comentando Hebreus, argumenta que o sábado mosaico foi ab-rogado como parte da velha ordem e substituído pelo descanso sabático espiritual que temos pela união com Cristo.

O domingo não é o “novo sábado”

Alguns tentam argumentar que o domingo cristão é apenas uma transferência do sábado para o primeiro dia da semana. Contudo, essa não é uma leitura correta das Escrituras. O domingo, o “Dia do Senhor” (Apocalipse 1:10), é celebrado porque Cristo ressuscitou nesse dia (Lucas 24:1). Os primeiros cristãos se reuniam nesse dia para partir o pão e ouvir o ensino dos apóstolos (Atos 20:7). Mas não há um mandamento bíblico que ordene aos cristãos a observância sabática no domingo.

Herman Bavinck é claro ao dizer que “o domingo é um dia de celebração, não de obrigação cerimonial”, destacando que a observância do Dia do Senhor é fruto de gratidão, e não imposição legal.

Obediência no Espírito, não na letra da lei

A Nova Aliança é marcada não por tábuas de pedra, mas pela lei escrita no coração (Jeremias 31:33). Os crentes são chamados a viver pela fé em Cristo e a obedecer a Deus em liberdade, não segundo os rudimentos do mundo (Gálatas 4:9-10). Paulo chega a repreender os gálatas por voltarem à escravidão de guardar dias e tempos, dizendo: “Temo por vós que eu tenha trabalhado em vão para convosco” (Gálatas 4:11).

Conclusão

Guardar o sábado como um mandamento cerimonial é retroceder à sombra quando já temos a realidade em Cristo. O descanso que o sábado representava já chegou em Jesus, e agora o cristão vive em contínuo descanso pela fé. Não vivemos mais debaixo da lei mosaica, mas na liberdade do Espírito.

Cristo é o nosso sábado. Guardar dias como obrigação cerimonial é negar, ainda que sutilmente, a suficiência da obra de Jesus. Não precisamos mais de sombras, pois temos a luz. Portanto, o cristão não deve guardar o sábado como ordenança da Antiga Aliança. Antes, deve descansar em Cristo todos os dias e celebrar com alegria o Dia do Senhor, não como um fardo, mas como privilégio do povo redimido.

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Soli deo gloria.

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