O Batismo deve ser gratuito

 


Descubra por que o batismo cristão deve ser oferecido gratuitamente, segundo as Escrituras e os ensinamentos dos reformadores. Um alerta contra a mercantilização da graça de Deus.

Introdução

Vivemos tempos em que práticas essencialmente espirituais estão sendo mercantilizadas. Uma delas, tristemente, é o batismo cristão. Igrejas e ministérios exigem “ofertas de batismo”, “taxas administrativas” ou “contribuições” como pré-requisitos para que alguém seja batizado. Isso não é apenas um erro pastoral; é uma violação frontal da natureza do evangelho. O batismo, como sinal visível da graça de Deus, não pode ser comercializado. Ele deve ser gratuito. A Bíblia ensina isso. A igreja histórica defendeu isso. E a consciência cristã clama por um retorno urgente a essa verdade.

1. O Evangelho é gratuito, e o batismo também

O batismo é um sacramento, uma ordenança instituída por Cristo (Mateus 28.19) que simboliza a união do crente com Jesus em Sua morte, sepultamento e ressurreição (Romanos 6.3-5). Ele não é uma obra que garante salvação, mas uma confissão pública da fé, um sinal da graça já recebida.

Essa graça, por sua natureza, é gratuita. Isaías 55.1 ecoa a voz de Deus:

“Vinde, todos os que tendes sede, vinde às águas; e vós que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite.”

Se a salvação é gratuita, como poderia o símbolo da salvação — o batismo — ser cobrado?

Jonathan Edwards foi firme ao afirmar que "a graça não admite preço, porque, ao menor custo, já deixaria de ser graça." O mesmo se aplica ao batismo. Cobrar por esse rito é distorcer sua natureza espiritual e a mensagem que ele carrega.

2. João Calvino e a simplicidade dos sacramentos

João Calvino, em suas Institutas da Religião Cristã, deixou claro que os sacramentos não devem ser rodeados por cerimônias pomposas ou monetizadas como ocorria no sistema romano. Para ele, o batismo era “um selo da promessa de Deus” e deveria ser administrado com simplicidade e fidelidade ao mandamento de Cristo.

Calvino escreveu:

“A graça de Deus não está à venda, nem pode ser negociada com moeda humana. O batismo, sendo sinal dessa graça, deve ser oferecido como Deus o oferece: de forma gratuita.”

O reformador genebrino ainda advertia contra os abusos da Igreja medieval que transformavam sacramentos em fontes de renda, afirmando que isso “perverte o evangelho e insulta o próprio Cristo”.

3. Charles Spurgeon: a graça não se vende

Spurgeon, o príncipe dos pregadores, foi um feroz opositor da comercialização de elementos da fé cristã. Ele não admitia que algo tão sagrado como o batismo fosse manipulado por interesses financeiros. Em uma de suas pregações sobre a graça de Deus, ele declarou:

“Não há moeda humana que possa comprar aquilo que o sangue de Cristo já comprou.”

Se Cristo pagou com Sua vida, como ousamos pedir pagamento em dinheiro? Spurgeon via no batismo uma “declaração pública de fé” que deve estar acessível a todo verdadeiro crente, sem barreiras financeiras ou institucionais.

4. A prática apostólica é o nosso padrão

A igreja do Novo Testamento jamais impôs exigências financeiras para o batismo. Em Atos 2.41, lemos que, após o sermão de Pedro, “os que aceitaram a sua palavra foram batizados”. Nada se fala de taxa, contribuição ou burocracia.

O etíope eunuco foi batizado por Filipe imediatamente após crer (Atos 8.36-38). Quando o eunuco pergunta: “Que impede que eu seja batizado?”, seria impensável que Filipe respondesse: “Uma oferta mínima para custear a cerimônia”.

A ausência de qualquer menção a pagamento no livro de Atos é um testemunho direto contra a atual prática de monetização do batismo. Paulo jamais exigiu dinheiro para batizar. Pedro jamais levantou uma “campanha de fé” antes de conduzir alguém às águas.

5. O perigo de tornar o batismo um produto

Cobrar pelo batismo não é uma mera “questão administrativa”; é um escândalo espiritual. Isso comunica, mesmo que involuntariamente, que há algo que o crente precisa fazer ou pagar para receber a plenitude da vida cristã. Isso é antievangelho. É heresia.

John Piper advertiu:

“Qualquer sugestão de que precisamos adicionar algo à obra de Cristo para receber Sua graça é uma ofensa ao evangelho.”

A cobrança pelo batismo é exatamente isso: uma adição carnal a um ato espiritual, uma mancha no testemunho do evangelho.

6. Uma chamada urgente à fidelidade

Pastores, líderes e igrejas precisam retornar à simplicidade e fidelidade do padrão bíblico. O batismo é uma ordenança de Cristo, e como tal, deve ser administrado sob os critérios do próprio Cristo. A única exigência que o Novo Testamento apresenta para o batismo é a fé genuína. Nada mais.

Thomas Boston escreveu que “os sacramentos são canais, não fontes, da graça — e devem correr livres como os rios de Deus”. Esse é o chamado: que o batismo volte a ser esse canal livre, não um pedágio cobrado pelo homem.

De graça recebestes, de graça dai

Cristo ordenou:“Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios; de graça recebestes, de graça dai” (Mateus 10.8).

Essa instrução vale para todos os atos do ministério cristão, inclusive o batismo. O povo de Deus deve ser protegido contra qualquer forma de comércio espiritual. O batismo é um testemunho da salvação gratuita em Cristo — e como tal, deve ser oferecido gratuitamente, sem obstáculos financeiros ou exigências humanas.

Cobrar por ele é negar, na prática, aquilo que pregamos no púlpito: que a salvação é pela graça, mediante a fé, e não vem das obras — nem das moedas.

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Soli deo gloria.

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